Diário de Iya Habiba

10 anos Terra Sagrada
A nossa Casa celebra neste ano o seu 10º aniversário. Estamos conectados com muita gratidão às tradições dos Orixás, bens culturais e rituais transmitidos oralmente, que ainda vivem e são praticados em pequenas comunidades na África, nas Américas, na Europa. Mesmo havendo grandes diferenças entre os muitos Ilês, Terreiros e Templos, Voduns, Umbandas, Santerías, esta inerente pluraridade auto organizada pertence ao coração central desta "Religio".
Os Orixás encontram seus caminhos, seus fiéis e suas casas – assim nos contam os anciãos. É maravilhoso que eles nos tenham encontrado, que compartilhem sua sabedoria e força, que nos tenham acolhido em sua escola de generosidade e que nos mostrem o sagrado na vida. Isto precisa de ser apreciado e celebrado! Em 2016 convidamos a todos não só para as Giras mas também para as celebrações do nosso Jubileu. Oxum quis assim, era o que Oxum queria! Bem-vindos,
Iya Habiba de Oxum, julho de 2016

Caminhos dos Orixás
Na grande natureza, seus ciclos e elementos, sua terra que alimenta e seu céu que respira, no jogo de equilíbrio contínuo das forças –nós humanos também somos lançados neste todo. Lá, onde celebramos essa conexão, onde compreendemos esta interação mais profundamente, onde queremos ver os nossos esforços em amor e dimensões como um todo, lá surgiram e ainda emergem as as tradições espirituais da natureza.
A tradição dos Orixás, como é cultivada neste Terreiro, é uma delas. Um caminho espiritual baseado na experiência, que requer devoção e disciplina, rituais que dão expressão à magia dos espaços vivente e curativos, que permitem a purificação, renovação e reconexão.
Iya Habiba de Oxum deseja inspiração na leitura desta página e encontros benéficos nas Giras e outros espaços de cura, julho 2015.

Rôra yèyé o - Modúpe Ìyá dé o
Oxum, Oshun o, Yèyé o - em mil maneiras fluindo, sempre nova.
Como mãe real amante da riqueza
Como leitora silenciosa do destino ancestral
Como bela rebelde carregando despertar
Tudo através de você, água. Aqui na Terra, tudo através de ti.
Emergir. Desvanencer. Mudança, tudo através de ti.
Venha, Yèyé, abençoada. Mostra-te de mil maneiras, sempre nova.
Deixa-nos viver-te, de todas as formas, sempre nova.
Deixe-se lembrar, profunda e sábia, deixe-se dançar-te ternamente e grande.
Deixe o mundo e nós, que nele nasçamos, sempre novos, Yèyé o.
Imensurável é a gratidão pela tua existência, Yèyé!
Modúpe Ìyá dé o!
Iya Habiba de Oxum, junho de 2014

Casa da Cura
O sagrado e a cura, nas percepções de mundo indígenas, são inter-relacionados e ambos estão diretamente conectados à natureza. O homem, as suas preocupações, necessidades, doenças e guerras nunca são - nesta perspectiva - apenas humanas, de pessoa para pessoa entre as pessoas. Fazem parte de uma família maior, um nós maior, um espaço maior que inclui a paisagem, a terra, as plantas, as pedras, as águas e os animais.
O sagrado vive entre homem e a natureza, assim como a cura. A cura ritual invoca e desperta o poder da relação entre o homem e o espaço, ela relembra o ‘estar conectado’ e dissolve a auto referência autista da humanidade. Nesta perspectiva, cada Orixá é uma divindade e um poder de cura, mesmo quando entre eles existam aqueles que se dedicam à cura em particular.
Ossaim, por exemplo. Quando Ossaim produz um feito especial, não é porque ele conhece muito bem os homens e seus organismos, mas porque ele – assim dizem os mitos – por muito tempo vagou por meio das matas, escutando, maravilhando-se, aprendendo. É porque ele estudou a relação entre homem e floresta, viu equilíbrio e desequilíbrio. A medicina de Ossaim não é uma erva que simplesmente cura feridas. A medicina de Ossaim desperta memórias para um bem comum maior, no qual feridas mas também milagres se manifestam. Saravá Ossaim! Euassa!
Iya Habiba de Oxum, março de 2014

Pulso da Terra
Em meio a todas as máquinas, em meio ao ritmo de nossas vidas ocupadas, em meio a todas as análises documentadas, não podemos mais ouvi-la, nem vê-la, nem compreendê-la: A Terra vive, pulsa, dança. Tem as suas leis e os seus direitos, a sua lingua E pode contar e descobrir milhares de histórias conosco.
Um Terreiro é um espaço onde a vivacidade da natureza é vista, ouvida, tocada, celebrada, honrada, cantada e dançada. É uma escola em que a incorporação e conexão da percepção humana com a terra e suas forças estão no centro da prática. É uma tradição que, seguindo a sabedoria antiga, sente a pulsão da terra.
É uma honra e também uma missão trazer os impulsos que dela decorrem para a prática ritual - para que as antigas artes de ligação e troca, com a grande dança de roda elementar, permaneçam vivas.
A cosmologia que flui junto de muitas áreas culturais, tal como é praticada hoje em dia nas casas da umbanda e do candomblé, tem um amplo espectro e práticas filosóficas e rituais naturalmente diferentes. A Terra Sagrada, Ilê Axé Oxum Abalô, com suas Obrigações e Festas, seus rituais de cura e Giras públicas contribuem para isso com grande alegria.
Que Oxalá lhe abençõe, Iya Habiba de Oxum, outubro de 2013

No Verão do sétimo ano...
o jardim do Terreiro floresce e prospera magnificamente. Ele quer ser tocado, vasculhado, cuidado, mas também quer ser percebido em silêncio, às vezes até mesmo deixado completamente sozinho. Só assim ele pode mostrar a si mesmo, a sua beleza e força. O caminho dos Orixás, que a Terra Sagrada vem seguindo na Europa Central há sete anos, é um jardim.
Ele chama para o compromisso, exige paciência, quer ser questionado, mas também ser utilizado e desfrutado – e assim flui através das velhas raízes e da roda do tempo em nossa direção, e atua como "Religio", como algo que se conecta repetidamente.
Um caminho desse tipo é ao mesmo tempo como um grande rio e uma faixa estreita.
Quando a devoção é um ato de amor, e quando ela se torna um ato cego e destruidor?
Quando é que a experiência do abrigo chama para uma abertura do nosso ser, e quando é que o mesmo abrigo é terreno fértil para amarras fundamentalistas? Quando é que o milagre do sagrado atua como chamado para a investigação contínua e quando é que ele se torna um instrumento de estruturas de poder distorcidas? Onde está o bom lugar para um entendimento claro, para a análise sóbria, para o discurso lógico, num caminho que ensina sobre o êxtase?
Sou grata, não só pela riqueza do caminho, mas também pelo fato de que ele e o tempo em que vivemos também deixam espaço para tais perguntas. Sim, mais do que isso: nos convida a questionar.
No verão do sétimo ano nos encontramos no meio de um magnífico jardim, com gratidão profunda pela dança de Olorum e Aiyê, ao espaço visível e invisível. Que Oxalá lhe abençoe.
Iya Habiba de Oxum, julho de 2013

Iroco - Tempo - Árvore do tempo
Em muitas culturas deste mundo as árvores desempenham um papel especial. O Axis-Mundi, a árvore do mundo conecta terra e céu e sob sua coroa os eventos e destinos da vida tornam-se histórias significativas. Iroco pode dissolver nossa concreta história de vida em sua dança de roda eterna de mil motivos e lança-la novamente em uma nova profundidade. Iroco é também um símbolo para o "nós" no qual nós humanos somos inseridos, mesmo quando às vezes se tem a impressão de estar somente entre homes, não estamos. Nós estamos entre homens, debaixo de árvores, em meio às plantas, sobre a terra com pedras, no meio dos animais e outros seres. Nós somos um Nós num mundo de múltiplas camadas. Este ser dissolvido e expelido no meio de um grande "nós", em todas as suas contradições e idiossincrasias, é o "nós" de um mundo multifacetado. A grande escola de Iroco, o Orixá das Árvores, que na linha angolana muitas vezes leva o nome de Tempo e retoma todos os rituais desta tradição sob o seu guarda-chuva. Tempo, a árvore do tempo, o poder guardião da memória, a ponte incessante entre os mundos. Saravá o Tempo! Tempo oiô!
Iya Habiba, fevereiro de 2013

Na dança da vida
As tradições orixás vêem a vida como um espaço de diversidade, interação e ritmo entre forças visíveis e invisíveis. Tudo nele tem o seu lugar, o seu significado, a sua beleza, o seu impacto. Os seus rituais dão expressão à vida do mundo. Tiram o seu poder curativo do poder pulsante do irracional. Sua escola para nós humanos hoje e aqui é a confiança na dança da vida e na aceitação amorosa e comprometida de sua própria parte.
Como é maravilhoso compartilhar esta tradição com os convidados em rituais públicos por muitos anos e guardar e manter vivo este caminho espiritual com tantos praticantes ativos.
Iya Habiba de Oxum Abalô, setembro de 2012

A bravura do coração
Há tantos caminhos da cura: os caminhos das plantas e sucos, os caminhos de intervenções cirúrgicas, os caminhos de transformação da linguagem.
Caboclos e Caboclas são forças espirituais que têm seus aliados, seus mestres, seus acessos em diversos caminhos. A sua mestria, porém, está na sua conexão com a bravura do coração: concordar decisivamente com vida. Mantém a faísca da vida protegida. Aceitar os presentes alegremente. Eles dançam por ela, lembram-se dela, chamam por ela.
Iya Habiba de Oxum Abalô, março de 2012

Lembrar a tarefa como um todo
Até ao pôr-do-sol, cada raio de sol é em vão quando vemos o que queremos
disse um poema de Michael Lehofer (Lehofer, Michael; O que devemos amar; Drava Verlag, Klagenfurt/Celovec, 2007) e conta, entre muitas outras coisas, de um elemento essencial da aprendizagem espiritual. Não ver o que queremos, mas ver o que quer ser visto e que pode ser visto através de nós. Não apenas para viver o que queremos, mas para viver o que quer ser vivido e pode ser vivido através de nós. Não apenas fazer o que gostamos, mas crescer de maneira condizente a nós, à nossa história e ao nosso presente. Trabalhar com forças espirituais, como proporcionado pelas tradições dos Orixás, é uma forma que nos lembra nossa alma e sua tarefa como um todo. Ela pode nos conduzir com pequenos passos, muitas vezes não tão espetaculares, até o que somos, nosso mistério, nosso chamado.
Recentemente eu li em um jornal diário algo parecido: "Mova-se também, não apenas seu avatar! É disso que se trata. Trata-se de darmos pequenos passos de forma simples e real, não apenas em espírito, mesmo nos pareçam tão pequenos ou tão esmagadores. E peço a força dos Caboclos, o seu impulso, o seu poder, a sua coragem, para que a alegria das pequenas, mas concretas ações na vida possa se espalhar ainda mais e as tarefas em seu sentido mais profundo possam tornar-se cada vez mais claras e diversificadas. Saravá os Caboclos! Okê Caboclos!
Iya Habiba de Oxum Abalô

A serviço da solidariedade
Num momento em que o imperativo do consumo bruto dita a organização social, em que os recursos elementares, sociais e espirituais são cegamente explorados, nos quais nós ainda estamos envolvidos em tantos movimentos históricos traumáticos e atuais – nestes Tempos nem sempre é óbvio permanecer no amor.
No amor por nós mesmos, por nós como comunidade humana, pelo que é a vida como criação - agora.
E, no entanto: afundar-se cada vez mais no amor, a deixar emergir o espaço de confiança, a estar inteiro - pronto para a vida, pronto para a ação. Esse é o caminho.
Como sou feliz, pelo chamado dos Orixás ter me levado por este caminho que posso explorar, experimentar, compartilhar, e seguir passo a passo a profundidade e diversidade desta tradição espiritual e seus rituais. Orientação e desafio, conexão e partida. Sou profundamente grata a todas as pessoas e forças que contribuem para o nosso trabalho ritual ao serviço da solidariedade.
Que o manto protetor do amor de Mamãe Oxum esteja presente nas Giras e Assentamentos deste Outono e mais além...... Ora iê iê iê ô!
Iya Habiba, agosto de 2011

O que faz uma filha ou um filho de Santo?
As tradições dos Orixás convidam as pessoas a seguir os vários caminhos dos "filhos de Santo". Os Orixás são as forças sagradas inerentes à natureza. São dimensões espirituais de nascentes e montanhas, de mares e florestas, de ventos e sóis...
Ser filho, um filho, de tais entidades, significa às vezes ser nutrido em êxtase bem-aventurado pelo seu néctar. Mas também significa assumir a tradição de zelar por essas forças, elementos e espaços. Cantando para eles, dançando para eles, estando lá para eles e erguendo-se para eles, os percebendo, mantendo-os vivos na memória, cuidando deles e os celebrando.
Significa também encontrar o mundo e o seu curso com dignidade e responsabilidade, com a maior generosidade, coragem e abertura possíveis. Não só nos rituais, mas também concretamente na vida. Fazer a própria contribuição, nem mais nem menos. Que isto nos pareça grande ou ridículo, independentemente disso: Preste uma contribuição. Isso é o que faz uma filha ou um filho de Santo.
Mãe Habiba de Oxum Abalô, março de 2011

Iemanjá – feminino ancestral, poder da maternidade e guardiã das cabeças
O dia 2 de fevereiro é considerado o dia da festa de Iemanjá - o poder espiritual dos mares. Então ela é cantada, agradecida e a dança sagrado-extática das Filhas é dedicada ao seu abraço. Os oceanos são espaços da criação, generosidade, conexão e equilíbrio. Iemanjá mantém o equilíbrio do grande fogo dentro e fora da terra. Está intimamente ligada aos ritmos da luz e da escuridão, enfim, a todos os ritmos que velam pela fertilidade e pela renovação dos recursos terrestres. Nos velhos mitos, ela é também a guardiã das cabeças.
Quando realizamos rituais em sua honra, pedimos em nossos corações que o equilíbrio, discernimento, confiança e responsabilidade estejam sempre retornando às nossas cabeças, para que ela nos ajude a nos reconectar com um lugar bom no curso do mundo, para a nossa e para sua proteção. O doce Iabá! Odoyá Mamãe!
Fevereiro de 2011, Iya Habiba de Oxum

Terra, Coração e Mão - Gestos Ritualísticos
Era um simples e pequeno ritual em que nos dizia sobre movimento que atua entre a terra, o coração e as mãos.
Do fato de que as mãos entram em ação confiante quando o ritmo do coração é ouvido e o poder de sustentação da terra pode ser percebido. E que este encontro de percepção da Terra, batimento cardíaco e mão que ajuda, estão a serviço da vida e da renovação pacífica.
Muitos gestos e posturas tradicionais na dança, na contemplação e nos rituais estão a serviço de manter esses insights vivos não apenas em nossa consciência linguística, mas também em nossas percepções físicas, sensoriais e corporais.
Desejo do fundo do meu coração que o mundo e nós humanos não paremos de ensinar uns aos outros gestos e movimentos que carregem histórias profundas e amorosas.  E que possamos experimentar a alegria e o êxtase que vêm quando a sua magia se desdobra.
Dezembro de 2010, Iya Habiba de Oxum

Os grandes poderes ancestrais
As tradições dos Orixás vêem o mundo constantemente permeado por forças visíveis e invisíveis. Os seres vivos e os antepassados, a natureza e as dimensões divinas dançam nela, entrelaçando-se em muitas camadas, os "tempos primitivos e seus mitos".
A volta à esta "dança" permite-nos pressentir com admiração e estremecimento o quão grande é realmente a nossa incorporação na vida, e como é essencial a ligação pacífica e, no entanto, clara fronteira com o "outro mundo" em que trabalham os grandes poderes ancestrais.
As Giras dos Ancestrais neste Outono em Viena, Graz, Zurique, Berlim e no Vale do Reno são especialmente dedicadas a esta ligação pacífica com fronteiras protetoras,
Iya Habiba de Oxum, setembro de 2010

"No fundo, tu és, oh homem, o Deus como árvore, como pedra, como animal."
Susanne Wenger, artista austríaca e sacerdotisa de Osun (Oxum), nascida em 1915 Graz, Áustria, falecida em 2009, Oshogbo, Nigéria
As tradições dos Orixás reconhecem a "santidade" nas forças da natureza. Com dança, ritmo, canto e ritual, abrem um espaço onde estas forças não só podem ser vividas, mas também vivenciadas.
Através da experiência sensorial, eles criam um relacionamento amoroso entre o homem e a natureza e fortalecem uma integração natural no fluxo da vida.
As relações vivas ou mesmo sagradas entre o homem e a natureza, a compreensão vívida, dialógica e cooperativa do mundo surgem como tolos no nosso tempo, determinados pela tecnologia e pela economia.
Esses tolos me são muito queridos! Como é maravilhoso que nos convidem a dançar e contribuam para que possamos praticar a tradição dos Orixás na Terra Sagrada tão alegre e profundamente na Europa de língua alemã. Olorum motumbá!
Iya Habiba de Oxum Abalô, Abril 2010

Estar alegre
Muitas pessoas que participam de uma Gira ou outro ritual aberto desta tradição relatam-nos repetidamente, entre muitos outros elementos: Como é tocante que a prática espiritual possa ser vivida com alegria, força e disciplina.
Eles me falam de seus corações. Na verdade, é sempre um pequeno milagre quando a alegria se espalha em um ritual coletivo de cantar e dançar, e como um fluido mágico o espaço e os seres nele contidos são sintetizados. A alegria não pode ser forçada, nem praticada, nem produzida - é uma dádiva que podemos aceitar.
Caboclos, Pretos Velhos e Orixás são obviamente generosos quando se trata de alegria. Regozijam-se com a alegria. Assim, ao longo do caminho, muitas oportunidades surgem para os filhos e convidados experimentarem a aceitação e o fluxo da alegria e descobrirem a cura e o sagrado nela.
Como Mãe de Santo, estou infinitamente grata por isso,
Iya Habiba de Oxum Abalô, fevereiro 2010

As Águas de Oxalá
No início de um novo ano, muitas casas associadas à tradição orixá celebram os rituais das "águas de Oxalá".
Mais uma vez, eles mergulham em um mito: viver, experimentar e preservar e o poder que nele habita, em compacto cerimonial. Aqui conta-se a história de um velho que sofre muitas humilhações em sua jornada ao encontro de seu filho e acaba inocentemente na prisão.
Ele permanece lá por sete anos - calmo e paciente, mas em seu coração conectado com a lei - enquanto isso a terra lentamente murchava e secava. Só quando o filho descobre seu pai no calabouço e faz com que ele seja libertado, lavado, cuidado, alimentado, envolto em roupas novas e reconectado ao mundo é que novas bênçãos retornam à terra.
As "Águas de Oxalá" são assim períodos de renovação e reconexão: com profundo discernimento, organizações claras e a natureza que vive e nutre.
Que este novo ano seja acompanhado pela sábia paciência de Oxalufã e sua disposição em aceitar o poder curativo da água e a reconexão com o curso do mundo. Procurar o equilíbrio também com a determinação e a força de Xangô, inclusive nos locais já esquecidos. E por último, mas não menos importante, a natureza transformadora do amor renovador inerente às doces águas de Oxum. Em grande amor e conexão,
Iya Habiba de Oxum Abalô, janeiro 2010

"Il faut manger la vie" - Tens de comer a vida
dizem os curandeiros da África, contou David Signer no lançamento do audiolivro Ilê Axé Oxum Abalô em Zurique. Sim, a vida quer ser comida, inteira, não só observada à distância, mas vivida intimamente, com pele e cabelo.
Este é também o caminho dos Orixás, um caminho de êxtase e devoção à vida, em que espaços sagrados e profanos permeiam uns aos outros. Devemos comer a vida, com tudo ao nosso redor, mergulhar na contínua transformação em que nós e o mundo nos encontramos.
Com esta profunda confiança que então toma seu lugar em nós, ela pode ser vivida e extinta - em grandes e pequenas missões.
Nas últimas semanas "O velho Omolú" tem nos acompanhado neste processo - e eu sou grata pelo fato deste Orixá, mesmo que de maneira muito discreta e ainda sim tão poderosa, abrigue em si a transformação e a cura.
Assim sendo, as Giras atuais são comemorações especiais em honra de Omolú/Obaluaiê - Atotô Ajuberô!
Iya Habiba, novembro de 2009

Olorum está no Aiyê...
diz numa das canções. Ele fala de Olorum, o poder da criação que está presente na terra. A canção é tão simples e ao mesmo tempo tão profunda quando passa a ser vivida. Olorum está no Aiyê é uma postura atenta e contínua aos vivos e seus mistérios. A tarefa de um terreiro é proporcionar espaço e tempo, enquadramento e meios para este movimento.
Agradeço do fundo do meu coração por todas as horas de dança, canto e a beleza dos espaços rituais dentro e fora da natureza. E, acima de tudo, pelos muitos momentos de graça que podem ser travessos e magníficos, reconfortantes e de tirar o fôlego.
Iya Habiba, verão 2009

Ogum foi ao mar, para saudar a Yemanjá
Os últimos rituais foram dedicados a um grande encontro pacífico entre Ogum, o fogo, e Yemanjá, o mar. E assim como após o sol se por no mar, uma noite escura segue, antes do renascimento da luz, estavam os barcos repletos de profundidade existencial e de grandes dádivas.
Agradeço a todos os convidados e filhos pela sua confiança e devoção e a todas as entidades e Orixás pela sua generosa proteção e companhia. Que esse grande poder continue a trabalhar nas Giras de Graz, Vorarlberg e Zurique e no futuro nos Assentamentos abertos de Landsberg e Berlim.
Março de 2009, Yalorixá, Mãe Habiba de Oxum Abalô

Viagem na virada de ano
Ainda agitada, maravilhada e comovida no rescaldo de uma grande viagem que conduziu às culturas indígenas da América do Sul, e à uma importante força, raiz da nossa tradição. Agradeço a cada portal, a cada traço e a cada momento que nos conectou mais diretamente à profundidade deste espaço espiritual: Com o entendimento de comunidade, a relação direta com a terra e em tudo isso, o constante e profundo alinhamento com o sol. Que as experiências e momentos encontrem boas condições e fluam como uma força amorosa nos rituais e atuação da Terra Sagrada.
Iya Habiba, janeiro de 2009

O Mistério dos Orixás
Talvez a ideia de devoção não seja tão moderna hoje em dia. A devoção a uma dimensão mística da existência é assim, ainda menos. E ainda assim os Orixás não são nada menos que o sagrado inerente às forças naturais, o numinoso. São princípios, ingredientes ativos da vida, mistérios. Com o Assentamento de Feitura em novembro de 2008, a Terra Sagrada é "arejada" pelas bênçãos de cinco Orixás: Xangô, Logunede, Oxum, Yemanjá e Tempo. Que riqueza e que dom para estar tão perto de suas manifestações, da sua beleza e singularidade e do seu trabalho poderoso. Mil vezes graças às forças protetoras que tornam tudo isto possível e dão orientação.
Axé, Iya Habiba, dezembro de 2008

Formas espirituais de organização
Os verdadeiros líderes de um terreiro são os Orixás. Eles estabelecem impulsos, estabelecem tarefas, estabelecem limites, recompensam-nos, enviam visões, discernimento e ordem. Eles são a vida, o sangue, o coração, a respiração do sistema.
Assim, a arte na organização terrena e a estrutura de liderança humana de um terreiro reside em fornecer uma base sobre a qual os Orixás se manifestam, seus impulsos podem ser compreendidos e traduzidos em ação. Trata-se da formação de lideranças e estruturas comunitárias nas quais os Orixás são as forças que forjam a atenção, ou, as fontes internas.
Iya Habiba, agosto de 2008

Misticismo Vivo
Cultivar o amor à vida, seguir o sentido entre as coisas e os tempos, expor-se à constante mudança no viver, estar presente e respirar, perceber o todo em atividades banais, escutar o mistério e ser responsável por cada passo.
Em grande gratidão pelos momentos abençoados da Vivência e das Giras das últimas semanas e em silêncio, profunda confiança naquilo que está a nos chamar a seguir.
Iya Habiba, julho de 2008

Atender ao chamado...
É uma grande alegria, honra e responsabilidade poder cultivar a tradição dos Orixás em nossa cultura específica.
Para isso é preciso assegurar que os rituais tenham profundidade e significado, que o conhecimento oral siga vivendo, que as estruturas sejam protegidas para servir à aprendizagem espiritual, e com consciência e movimento, criem seu espaço aqui, um espaço que permita que o material e o imaterial se interpenetrem amorosamente.
Do fundo do meu coração, agradeço a todas as pessoas, bem como a todas as forças interiores e exteriores que contribuem para que a Terra Sagrada possa recolher e realizar com alegria e bom humor estas tarefas.
Iya Habiba, maio de 2008